domingo, 22 de junho de 2014

Noivas de Maio


Maio chega com rajadas de ventos
desfolhando flores,
enfeitando as cidades,
fertilizando os campos,
balançando lembranças caídas
dos galhos da infância.

Houve um tempo em que maio
era o mês dos sonhos,
dos enlaces jurados,
de amor eterno,
de abençoados cuidados,
um caminho ditado para a tal felicidade!

As noivas de maio anunciavam-se,
embevecidas como a brisa das manhãs,
em seus vestidos brancos de caudas esvoaçantes
e cascatas de véus deslumbrantes:
estandartes da virtude guardada,
escondendo o medo em sorrisos tensos -
Seria doce prisão ou suave liberdade?

Houve um tempo em que esses sonhos
eram pacientemente bordados
em lençóis de seda e em jogos de cambraia,
no preparo da mesa , no enfeite da casa
a mostrar que a moça valia bem mais
que o dom do seu nome
e do que o peso dos seus dotes.

Houve um tempo em que, no cair do dia,
as meninas ouviam avós doces, suspirosas,
narrando as agruras do amor platônico
das noivas roubadas por príncipes encantados,
das que eram abandonadas e enlouqueciam,
virando fantasmas nas madrugadas...

As noivas mudaram,
mas ainda sonham com a alegoria
dos vestidos e véus
que agora comportam todas as cores
revestindo o sonho secular
em que o amor quer,
de dois, fazer um!

Maio se vai sem glamour.
Dezembro tomou seu lugar.
A fantasia atravessa fronteiras às pressas
e presa do desejo sem cais,
entre um e outro dia,
um mesmo casal se faz,
se desfaz e se refaz!

Contemplando as flores de maio
caídas dos amores formais e informais,
a poeta se pergunta:
felizes somos nós ou felizes eram as nossas avós?

Autoria: RozeMeire dos Reis

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