terça-feira, 20 de setembro de 2011

O Andaime

O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!

Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão.
Este seu correr vazio
Figura, anônimo e frio,
A vida vivida em vão.
A esperança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha esperança,
Rola mais que o meu desejo.

Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam - verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.
Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.
Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!
Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.
Som morto das águas mansas
Que correm por ter que ser,
Leva não só lembranças -
Mortas, porque hão de morrer.

Sou já o morto futuro.
Só um sonho me liga a mim -
O sonho atrasado e obscuro
Do que eu devera ser - muro
Do meu deserto jardim.
Ondas passadas, levai-me
Para o alvido do mar!
Ao que não serei legai-me,
Que cerquei com um andaime
A casa por fabricar. 

    Fernando Pessoa

Harmonizando a vida em escalas musicais

Atravessava os dias em notas musicais,
Mergulhando a alma em intensas canções!
Lamentos em dó de dar mesmo dó
Revivendo em ré a miserável paixão
Viajando em mi,  miando, mirando uma nova extensão
Acomodando-se em fá,  de Fábio, de família, apoio e proteção
Para poder abrir-se em sol, solfejando o ritmo da alegria
Caindo em si, sincronizando em lá,
Passado e presente, consciente e inconsciente
Fechando a escala de dó, dobrando-se ao novo
Flauteando em sopros de ré, renascendo sente
Mil transas de cordas soando em mi maior
Fazendo farras em fá, criança a fantasiar
Como se soltando pipas ao sol
Lapidando leveza, cigarra, beija-flor
Esculpindo a beleza dos fonemas
Tiradas em lá, si, dó
la,lá,lá....
Si,sisisisisisisi


Autora - RozeMeire dos Reis, no livro "Depurando as paixões em palavras derramadas"

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