domingo, 23 de setembro de 2012

Licor das horas

Amor
         trave dilacerante
                dentro da noite.
         Face ondulada
                e conzenta
                  sob névoas e absinto.

Calor das mãos - suores e pratos.
Corte à faca, rente e profundo
                    junto ao peito
                                   no coração.

Thereza Crhistina Rocque da Motta - Joio e Trigo

sábado, 14 de julho de 2012

Imperfeito

A ciência deveria ser perfeita,
mas não é.

A vida deveria ser perfeita,
mas não é.


Alguns homens perseguem a perfeição
Brincam de ser Deus,
Mas não chegam lá.


Os deuses não foram perfeitos
Alguns gênios - quase perfeitos!
Como Van Gogh,
Produziu o belo
E enlouqueceu.
 
Há jóias que são perfeitas
Há quadros que são perfeitos
Há livros que são perfeitos
Para quem?
Para quantos?
 
O imperfeito faz o charme
 A beleza singular
Assimetria
 cicatriz
Falhas
Ais...

Nenhuma obra é perfeita
Não há juízes perfeitos
Não há juízos perfeitos.

Há gente que sente
E toca o outro
Num estilo diferente!


Para produzir o belo
Não precisa ser gênio
Basta um olhar
Um ouvido
Um coração
E alguns neurônios...
Especiais.

Então, posso ser artista!
Fazer uma arte qualquer
Que desde sempre, ou,
 de repente,
Me escolha!
 

Intimista
 Concretista
 Simbolista
 Cubista
Impressionista
Minimalista
Detalhista
 Dramática
 Comediante
Prática
Plástica
Romântica...

Sou mais que qualquer enquadre
O rótulo, inútil,
Não me traduz
Não capta toda luz
Na sombra dos meus atos.

Os meus poemas não são perfeitos
Não cavam sempre as rimas
Não perseguem as métricas
Ignoram a razão e o padrão
Explodem do calor das entranhas
Buscam o coração.

Do momento imperfeito...
 - O efeito, é mais que perfeito !

( RozeMeire dos Reis)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Paisagem com grão de areia


Nós o chamamos de grão de areia.
Mas ele mesmo não se chama de grão, nem de areia.
Dispensa um nome
geral, particular
passageiro, permanente,
errado ou apropriado.

De nada lhe serve nosso olhar, nosso toque.
Não se sente nem olhado nem tocado.
E ter caído no parapeitoda janela
é uma aventura nossa, não dele.
Para ele é o mesmo que cair em qualquer coisa
sem a certeza de já ter caído,
ou de ainda estar caindo.

Da janela há uma bela vista para o lago,
mas a vista não vê a si mesma.
Existe neste mundo
sem cor e sem forma,
sem som, sem cheiro, sem dor.

Sem fundo o fundo do lago
e sem margem as suas margens.
Nem molhada nem seca a sua água.
Nem singular nem plural a onda
que murmureja surda ao seu próprio murmúrio
ao redor de pedras nem grandes nem pequenas.

E tudo isso sob um céu por natureza inceleste,
no qual o sol se põe na verdade não se pondo
e se oculta não se ocultando atrás de uma nuvem
                                                                      [insciente.

O vento a varre sem outra razão
que a de ventar.

Passa um segundo.
Dois segundos.
Três segundos.
Mas são três segundos somente nossos.

O tempo correu como um mensageiro com notícias
                                                                        [urgentes.

Mas isso é só um símile nosso.
Uma personagem inventada, a sua pressa imposta
e a notícia inumana.

Autoria:  Wislawa Szymborska ( 02/07/1923 - 01/02/2012)
Ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 1996.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Geometria

Palavras não têm
angulos retos
mas agudos,
obtusos.
Sempre indiscretos.

Autoria: Wael de Oliveira
Revista APC no. 13

sábado, 12 de maio de 2012

O Que É Ser Mãe?


Olhe o jeito da menina
Com uma boneca na mão
Bate, afaga, dá a chupeta
Tal qual faz a sua mãe!
                                                                                         
Será que ela quererá ser mãe?
Será que ela poderá ser mãe?
Será que ela será mãe, mesmo sem querer?
Será que ela poderá igualar em seus atos e sonhos
Ter filhos com ser mãe?
  
Há meninas que têm filhos
Há pais que são mães
Há mães que são filhas
Há esposas que são mães
Há as que adotam os filhos
Dos amigos e parentes
E todos os entes carentes
Que surgem à sua frente!

Ser mãe é...

Saber decifrar o choro e acolher no desamparo
Ser paciente, afetiva, incisiva e tolerante
Ensinar  a afinar a língua para rodar no mundo gigante
E poder inventar um sentido para os dias angustiantes!

Ser mãe é...

Saber dizer sim e não
Ainda que com o coração na mão
É saber reter no abraço quente
E largar na vida corrente
Sem a precisão de um relógio que a oriente!

Ser mãe é...

Saber multiplicar as horas e fazer render o tempo
Pois, no circo da vida
Tem que ser filha,  avó, profissional
Amiga, namorada, esposa ou nora
E ela ainda quer ir ao salão de beleza
E jogar conversa fora!

 Ser mãe é ...
Suportar  a angústia de saber:
 - da sua impotência contra o mundo mau
- que seus sonhos esbarram num muro real
- que o rebento tem seus gens, mas não é um igual;
- Ele será um outro, diferente sempre!
  
Ter filhos, não é igual a ser mãe.

Ser verdadeiramente mãe não é para todas!

Veja as violências nos lares
Os meninos nas ruas
A alienação nos bares
A fragilidade nas veias

Ser mãe é ...

O que você puder completar nessas reticências ao mirar:

- No espelho  da mãe que a vida lhe deu
- No afeto que restou quando a ferida cicatrizou
- Nos olhos dos filhos que você se deu!

Ser mãe é...
Saber  conciliar, todos os dias, um mar de opostos dentro de si!


Autoria: Rozemeire dos Reis

quinta-feira, 8 de março de 2012

Rosas inomináveis


Mulher, que enigma há nesse ser
Que vive mil vidas em uma?
Ela chega diferente a este século XXI?
Em alguns aspectos, sim
Em outros, nem tanto.
Empunhando espadas como Joana D'Arc
Contando estórias como Sherazade
Reinando astutas como Cleópatra
Misteriosas como Monalisa
Elas tentam mudar a vida dos homens e das mulheres!

Delas, muito se fala e pouco se compreende
E, observando uma, não captamos a essência de todas
Descrevendo muitas, não sabemos de nenhuma
Porque elas escapam a qualquer padronização!


Como a natureza, elas mudam de estação
Às vezes no meio do dia, no calor da conversa
E nessa hora, desde cedo, aprende o menino,
Melhor sair de fininho e não aquecer a discussão!


Ela poderia ser simplesmente mulher,
Mãe, avó, filha,  tia, amiga, irmã, prima, esposa, namorada
Mas, quis ir mais além e se fez -
Engenheira,  poeta, secretária, professora, assistente, administradora, diretora, militar, entre tantas profissões,
Tendo que ir a um campo estranho
Aprender as regras de um jogo,
Que não se restringe  mais a jogos de amor!

Agora driblam adversários que o sistema impõe
Têm que dar conta de muitas contas
E, ainda, formar super filhos para a arena global!

Sozinhas, bem ou mal acompanhadas,
Dançam na chuva, dançam na vida,
Estreiam personagens, mostram suas faces
Leves, dramáticas...
Vítimas, sarcásticas...
Queixosas, práticas...
Românticas, sedutoras...
Tímidas, descoladas...
Sérias, danadas...

Há os que acham que  elas são
Jóias de prata, de ouro, diamantes, cristais...
Pedras brutas ou lapidadas pelas agruras vividas
Que  enfrentam com risos, cantos
Ou em rios de lágrimas
Com ares de deusas ou de rosas esquálidas!

Mulheres privilegiadas! diz o revolucionário,
Esqueçam o apelo que o mercado faz neste dia,
Vocês estão desfrutando confortáveis,
De conquistas oriundas de lutas seculares!

Recebam suas flores, aceitem os abraços
Porque há o que comemorar, é verdade,
Mas aqui, em outros países, nas ruas, nos bares,
Nos hospícios e  nos lares,
As vidas de muitas rosas, inomináveis,
Não são, nem por umas horas,
Pinceladas de cor de rosa!


sexta-feira, 2 de março de 2012

Passarela do Tempo


Piso num tapete de folhas secas
O som, sob meus pés , percorre meu corpo
Acariciando meus ouvidos
Como pedaços de música
Que o tempo, de tempos em tempos, prepara!

As telas das cores do outono
Alimentando a terra, embelezando o ar
Natureza morta que sobrevive
Na veia do artista mágico, gênio ou louco
Na semente que caiu dos voos!

As folhas caem, envelhecidas
E, ainda assim, tão  belas!
Como nossos sorrisos dúbios, amarelos...
Entre o brilho da sabedoria sofrida
E a nostalgia da inocência perdida!

Estamos na passarela do tempo
Quebrando galhos, desfolhando amores
Contando dos atalhos ao jovem
Com seu ar de descaso aos nossos conselhos!

 

Autoria: RozeMeire dos Reis


sábado, 25 de fevereiro de 2012

Caixa de surpresas

Não há como saber das surpresas que a vida nos  fará.
Boas ou más, acontecem simplesmente!
Algumas, podemos decidir pelo descarte... ou aproveitá-las e nos transformar!
Outras, se a vida é o que conta, temos que combatê-las.
Apesar do medo, aprendi que, boas ou más, enfrentá-las é o melhor do caminho;
No mínimo, nos tornaremos um pouquinho mais fortes!
Isso não ensinamos a ninguém, porque é do humano quase sempre aprender somente com as próprias experiências.

Mas, ainda assim, compartilhamos as nossas,  falantes que somos.
Cultivamos a pretensiosa esperança de que sirvam como âncoras quando a desesperança e a angústia abatem aqueles que amamos!
Bom mesmo é quando compartilhamos pelo simples prazer de, com os amigos, comemorarmos uma trajetória!
Assim estou, hoje, especialmente  feliz, por ter deixado aberta a caixa de surpresas da minha vida...
E ter optado por aproveitá-las!
(Para o lançamento do livro - 04.11.11)

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Toda - Amor


 Eu te dei o meu amorTodo ele – louco amor
Nos melhores anos de meus sonhos
Delírios de menina
Travessia de mulher
Eu te dei minha alegria
Em cantos e zombarias

Nos melhores anos de minha energia

Lavas de vulcão
Desabrochar da menina
Explosão da mulher
Eu te dei meu corpo
Envolto de afetos num horto
Nos melhores anos de meus hormônios
Devassa de menina (toda sua)
Revirão da mulher...
( Trecho do poema Toda Amor do livro Depurando as Paixões em Palavras Derramadas)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Entrevista TV Transamérica - Programa Toda Tarde

Mesquinha beleza

                        
 "Durante anos,
Brigara com o mítico criador
Por não socializar a beleza
Por esse acaso injusto da natureza;
A uns, tanta, tanta..
Que aos olhos hipnotizam, espantam!
A outros, nada, ou quase nada
Que a alguns até faz temer a ojeriza...
Os elogios, quando vinham
Passavam  a seu lado,
Às irmãs, aos amigos e amigas
                                 Para si, as palavras eram mudas ...."

( Trecho do poema  - Livro Depurando as Paixões em Palavras Derramadas
de minha autoria)

 Foto dos declamadores performáticos: Juliana Spricigo e Levi Brandão no lançamento do livro

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Reportagem na intranet sobre o meu livro

Essa reportagem foi elaborada para divulgação na intranet da empresa em que trabalho, num espaço que valoriza os talentos dos empregados, fora do ambiente de trabalho.

Você Empregado: Psicóloga retrata em versos questionamentos da vida
 

Enviado por Claudia Felczak
“Quem canta seus males espanta”. Todo mundo já ouviu essa frase, que mostra como a música pode ajudar as pessoas a viverem melhor. E isso pode se estender a outras atividades. No caso da psicóloga e analista de TI da Unidade Regional Paraná (URPR), Rozemeire dos Reis, foi a literatura que serviu como uma espécie de terapia. A iniciativa deu tão certo que Rozemeire lançou recentemente um livro com seus principais trabalhos.
A analista de TI já escrevia desde a adolescência, mas, foi por conta de um afastamento motivado por problemas de saúde e das sessões de psicoterapia que passou a realizar que a produção se intensificou. “Escrever me ajudava a organizar minha cabeça. Anotava minhas percepções para levar à terapia e, quando vi, percebi que havia trechos poéticos ali”, conta.
Meire – como é chamada carinhosamente pelos colegas – foi escrevendo cada vez mais “Para mim foi um resgate para a vida e a proposição de novos desafios”. Mesmo assim, a ideia de publicar os trabalhos nunca havia passado pela sua cabeça. Foi somente ao perceber seus sobrinhos, que também escreviam, buscando informações sobre o assunto, que a psicóloga se deu conta de que já tinha material suficiente para produzir um livro. “Se meus sobrinhos podiam pensar nisso, por que não eu?”, lembra.
Foi a partir dessa iniciativa que surgiu a obra “Depurando as Paixões em Palavras Derramadas”, lançada em novembro desse ano. Por ser fruto de um trabalho terapêutico, o livro traz poesias que abordam os principais questionamentos do ser humano, como os desafios cotidianos, a busca pela felicidade, as angústias e as experiências de amor. Meire acredita que a leitura da obra pode contribuir para outros pacientes em tratamento terapêutico. “Os poemas ajudam o leitor a perceber – de forma distinta – diferentes situações cotidianas, levando-o a pensar de outra forma e olhar com outra visão assuntos e sentimentos recorrentes. São poemas com linguagem leve, mas que proporcionam uma reflexão sobre os desafios da vida”, comenta.
Depurando Paixões traz poemas separados em cinco capítulos, em que a autora fala sobre diferentes aspectos do amor. Ela ainda questiona sobre a transformação promovida pela terapia e a importância do divã na busca pelo autoconhecimento.
A autora também lançou um blog (http://www.derramandopalavras.blogspot.com/) no qual publica seus trabalhos, diversos deles, inclusive, constam no livro.
De toda essa experiência, Meire tirou a lição de que cada um “deve olhar para dentro de si e ver o que tem vontade de fazer, verificar se está se boicotando e identificar o que gosta”. Ela mesma reconhece que ela mesma apenas fez esse trabalho quando não teve outra alternativa. “Devemos buscar coisas que nos resgatem, coisas que vão além das nossas necessidades e obrigações”, conclui.

PS: Esta foto não faz parte da reportagem original.